Falsidade Brilhante ou Honestidade Mortífera? (reprise)
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Falsidade
Brilhante ou Honestidade Mortífera?
Álvaro
de Campos
O
que há em mim é sobretudo cansaço —
O
que há em mim é sobretudo cansaço —
Não
disto nem daquilo,
Nem
sequer de tudo ou de nada:
Cansaço
assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A
subtileza das sensações inúteis,
As
paixões violentas por coisa nenhuma,
Os
amores intensos por o suposto em alguém,
Essas
coisas todas —
Essas
e o que falta nelas eternamente —;
Tudo
isso faz um cansaço,
Este
cansaço,
Cansaço.
Há
sem dúvida quem ame o infinito,
Há
sem dúvida quem deseje o impossível,
Há
sem dúvida quem não queira nada —
Três
tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque
eu amo infinitamente o finito,
Porque
eu desejo impossívelmente o possível,
Porque
quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou
até se não puder ser...
E
o resultado?
Para
eles a vida vivida ou sonhada,
Para
eles o sonho sonhado ou vivido,
Para
eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para
mim só um grande, um profundo,
E,
ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um
supremíssimo cansaço,
Íssimo,
íssimo, íssimo,
Cansaço...
9-10-1934
Poesias
de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp.
1993). - 64.


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